Em 2015, a Fortune já anunciava uma perda de US$ 18 bilhões para as maiores empresas de alimentos e bebidas, impulsionada especialmente em fundação da geração millenials estar se afastando dos alimentos ultraprocessados e buscando alternativas mais saudáveis e clean label. Atualmente, esse movimento continua crescendo significativamente, sinalizando para as empresas do setor diversas oportunidades e desafios de saudabilidade alimentar no desenvolvimento de produtos. Por isso, a indústria de ingredientes tem investindo consistentemente em P&D para fornecer uma gama mais ampla de opções de ingredientes voltados à saudabilidade para as indústrias de alimentos e bebidas.
Embora a tendência de alimentação saudável tenha conquistado força nos últimos anos, a atual crise global de saúde impulsionou ainda mais esse mercado. Alimentos orgânicos, por exemplo, tiveram um forte aumento nas vendas globalmente, de acordo com uma pesquisa da Ecovia Intelligence.
Patrícia Cotti, diretora executiva do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Consumo (IBEVAR), comenta que "a pandemia afetou o setor com ressignificação dos produtos e das compras. Há maior busca por produtos mais saudáveis, conforme as pessoas fazem mais suas próprias refeições em casa e tentam manter uma rotina de melhora da alimentação. A busca por alimentos com vitamina no Google também cresceu, bem como a de índices nutricionais dos alimentos".
A saudabilidade alimentar gera demandas e exigências originadas de diversas frentes, podendo ser a partir de reguladores e órgãos do governo, consumidores, comunidade médica e outras fontes. Para atuar nesse cenário de modo a atender tais necessidades e garantir uma posição de mercado e em vendas satisfatória, as empresas lidam com alguns desafios.
O desenvolvimento de produtos com foco na saúde intestinal e conexão com a função imunológica é um dele. Globalmente, 57% dos consumidores relataram estar mais preocupados com a sua imunidade como resultado da pandemia da Covid-19. À medida que os consumidores se esforçam para aumentar a sua imunidade, estão ficando mais bem-informados sobre como o microbioma humano apoia o sistema imunológico e o seu bem-estar geral.
Para lidar com esse desafio de saudabilidade alimentar e atender a essa demanda em produtos, utilizar ingredientes nutracêuticos, probióticos, prebióticos e pós-bióticos que possam beneficiar o microbioma é algo a ser considerado. “Uma vez que os prebióticos e os probióticos desempenham papel importante na manutenção de um intestino saudável, o desenvolvimento de bebidas simbióticas, ou seja, prebióticas e probióticas, pode ser uma resposta para que a indústria faça lançamentos de ofertas que atendam a essa demanda. Outro ingrediente que pode protagonizar esse momento é a inulina, não apenas porque pode transmitir dulçor aos produtos, tornando-os mais saudáveis e indulgentes, como também pelo potencial de alegação de fibra. A fibra também desempenha papel crítico na saúde digestiva", explica Caroline Assunção, consultora independente, engenheira de alimentos e doutora em ciência e tecnologia de alimentos.
Outro desafio é a saudabilidade alimentar, mas com experiência indulgente. As circunstâncias decorrentes da pandemia aumentaram, de modo geral, os sentimentos de ansiedade e estresse, o que gerou uma demanda por produtos que contribuam com o bem-estar e com a sensação de indulgência. "Com relação à composição das cestas, no cenário da pandemia também se percebe o movimento duplo de crescimento de itens de saudabilidade e dos relacionados à indulgência", reforça Patrícia Cotti.
Equilibrar esses dois fatores em uma formulação viável e custo-eficiente é um dos desafios da saudabilidade alimentar no desenvolvimento de produtos que estão em evidência. Para vencê-lo, alimentos e bebidas desenvolvidos para melhorar o humor, manter a energia e reduzir o estresse deverão crescer entre os lançamentos daqui para a frente, ao lado de snacks funcionais e reconfortantes.
Agregar valor e alegações alinhadas à saudabilidade alimentar sem diminuir a qualidade ou comprometer o sabor, mas mantendo a relação custo-benefício, soma-se aos desafios atuais da indústria.
Esse desafio deverá impulsionar o setor de aditivos alimentícios, especialmente os naturais, de modo que as empresas possam desenvolver produtos reforçados com proteínas, vitaminas e outros nutrientes de forma viável e eficiente. Além disso, ingredientes de valor agregado e soluções e misturas completas que permitam à indústria atender a mais de um requisito com um mesmo ingrediente também podem ajudar nesse desafio de saudabilidade alimentar, com uma produção viável. Os ingredientes botânicos, por exemplo, combinam bem com a percepção de produto saudável e natural, ao mesmo tempo que servem a vários propósitos como cor, sabor e propriedade antioxidante.
Nesse desafio, também podemos encontrar a demanda por redução de sódio ou açúcar nos produtos alimentícios, tornando-os mais saudáveis, porém, mantendo a experiência de sabor esperada pelo consumidor.
O consumidor, especialmente das novas gerações, faz pesquisas, lê com mais atenção rótulos e busca se informar se marcas e produtos realmente entregam o que sua mensagem de marketing promete.
Nesse contexto, o Storytelling deve ser construído de forma confiável e transparente, com dados concretos, compreensíveis e bem-contextualizados para apoiá-lo. “A alegação tem que ser confiável. Um alimento rico em sódio que se promove como rico em grãos integrais não deverá funcionar nesse mercado por muito tempo. Os consumidores que buscam saudabilidade estão cada vez mais criteriosos e experientes", finaliza Caroline Assunção.
Fonte: Food Connection