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LUZ AZUL: O QUE É E COMO NOS AFETA


O espectro eletromagnético é composto por ondas eletromagnéticas de diferentes comprimentos e intensidades, que partem de ondas de rádio (mais longas, com menor energia) a raios X e gama (mais curtas e mais energéticas).

Dentro desse espectro, entre as luzes ultravioleta (UV) e infravermelha (IV) está a porção a que chamamos de luz visível, que é a parte do espectro - captada pelos olhos e responsável pela visão humana(1), conforme figura abaixo.

A luz visível é composta por ondas de comprimentos entre 400 e 780 nm(2; 3) que podem ser classificadas em ondas curtas (azul), médias (verde) e longas (vermelho)(4). Quanto menor o comprimento de onda, maior a sua intensidade e seu potencial energético, portanto, a luz azul com comprimento de onda entre 400 e 500nm(2; 4) é a banda de maior energia dentro do espectro visível, e é conhecida como luz visível de alta energia (HEV Light - do inglês High Energy Visible Light(1).

A luz azul está presente em quase todos os ambientes(1; 5; 6). O sol é a fonte natural primária de luz visível, com emissão entre 25% a 30% de luz azul, mas estamos cada vez mais expostos a essa luz a partir de fontes artificiais de iluminação e de equipamentos eletrônicos modernos que utilizam, na sua maioria, a luz LED(1; 5; 6; 7; 8).

Por ser considerada uma fonte de energia eficiente, baseada no baixo consumo de energia e com uma vida útil longa, as lâmpadas LEDs estão sendo cada vez mais utilizadas em ambientes domésticos e profissionais. Essas lâmpadas, independentemente de terem coloração azul ou mais comumente branca, emitem uma quantidade significativa de luz azul(5). Os equipamentos eletrônicos também utilizam essa tecnologia devido à nitidez e brilho de imagem que proporciona.

Atualmente, mais e mais pessoas iniciam o seu dia com o brilho da tela do celular como um despertador e trabalham muitas vezes em ambientes externos, onde a radiação luminosa do sol as acompanha durante todo o dia, ou em ambientes fechados com luzes artificiais. Uma consideração muito relevante e ainda mais preocupante, é o fato de que as pessoas estão usando vários dispositivos eletrônicos simultaneamente enquanto estão trabalhando em um laptop ou em frente a uma tela de computador e se “distraem”, acessando as mídias digitais através de celulares, ou mesmo a TV, acentuando ainda mais a exposição à luz azul.

Mas essa exposição contínua e crescente à luz azul, não atinge apenas os adultos(4). Cada vez mais cedo, crianças muito pequenas aprendem a utilizar dispositivos eletrônicos portáveis antes mesmo de aprenderem a falar e andar(7) .

É importante salientar, que esta exposição está acontecendo em um momento em que os olhos são mais vulneráveis, uma vez que o olho, em particular a retina, está a completar o seu desenvolvimento até os 4 anos. Nesta idade, o cristalino é completamente transparente e permite que mais luz azul chegue até a retina. Desta forma, nesta faixa etária a quantidade de luz de alta energia incidente na retina é muito maior que a incidente na retina de pessoas mais velhas(4; 7).

Crianças e adolescentes em idade escolar também estão cada vez mais expostas ao uso da tecnologia por tempo muito prolongado. Além de vídeos, filmes e jogos eletrônicos, as crianças utilizam essas tecnologias nas escolas(7) e, assim como os adultos, já relatam problemas oculares, dores de cabeça e cansaço quando utilizam esses equipamentos(7). Os impactos reais desta exposição só serão conhecidos ao longo dos anos.

Pesquisa feita pelo The Vision Council, relata que 77% dos pais mostraram-se preocupados com o impacto que os dispositivos eletrônicos possam causar no desenvolvimento dos olhos de seus filhos.

Dados recentes mostram que a utilização de dispositivos eletrônicos já fazem parte do cotidiano familiar e que cada geração possui seus próprios hábitos(7).

Estudos epidemiológicos mostram que a exposição ao espectro da luz visível está associada a inúmeros problemas oculares e de pele. Essa degradação lenta, porém aguda e cumulativa, iniciada cada vez mais cedo, pode levar a problemas de visão a longo prazo, tais como a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) e catarata(5; 9; 10; 11). Na pele, o desencadeamento da formação de radicais livres pode levar ao envelhecimento prematuro da pele e o aparecimento de rugas e linhas de expressão(12).

Luz azul e a pele

Assim como os olhos, a pele está exposta diariamente as diferentes radiações. Cada faixa dessa radiação apresenta um poder de penetração diferente e consequentemente, diferentes efeitos danosos à pele.

Embora uma porção significativa dos danos à pele, induzidos por radicais livres e Espécies Reativas de Oxigênio (ROS) sejam atribuídas à exposição aos raios UV (UV-B e UV-A), estudos têm mostrado que a luz azul também exerce um papel importante neste mecanismo(2;13) .

Um estudo de Jurkiewicz-Lange e Buettner(14), mediu a formação de radicais livres na pele exposta a radiações UV ou luz visível. A maior quantidade de radicais livres foi produzida quando os sujeitos foram expostos aos raios UV mais luz visível, produzindo um aumento de 6 vezes de radicais livres na pele. Além disso, o estudo mostrou que mesmo quando a pele foi exposta apenas à luz visível também houve um aumento significativo de 3 vezes na produção de radicais livres(14).

Por penetrar em toda a extensão da pele e atingir as camadas mais profundas da derme, a luz azul pode danificar irreversivelmente as estruturas essenciais da pele contribuindo para o foto envelhecimento, diminuição da hidratação e elasticidade, alterações pigmentares, rugas e processos inflamatórios cutâneos(15; 16; 17; 18; 19).

Luz azul e os olhos

Nos olhos, a luz azul é essencial para a visão e também desempenha um papel na foto recepção não visual (caracterizada por sensibilidade máxima de comprimentos de onda de 460-480nm - luz azul)(20), incluindo benefícios como o estabelecimento e a sincronização do Ritmo Circadiano(2), auxiliando nas funções cognitivas como atenção, memória, emoção, assim como no estado de vigília e sono(20).

Embora seja essencial à nossa visão, altos níveis de luz azul podem ser prejudiciais, em particular quando o comprimento de onda está abaixo dos 460nm (mais próxima ao UV e portanto, mais energética).

Sendo a luz azul inevitável e parte da nossa vida cotidiana é importante entender como ela afeta a nossa saúde e como podemos limitar os seus danos sem interferir em seus benefícios.

As principais estruturas dos olhos são a córnea, a íris, o cristalino (lentes) e a retina - mácula. Essas estruturas oculares absorvem as radiações com seus diferentes comprimentos de ondas(9). A córnea e o cristalino absorvem os comprimentos de onda referentes a luz UV, enquanto os comprimentos de onda IV passam através da córnea e do cristalino, e são absorvidos pelas partes líquidas dos olhos (humor aquoso e vítreo). Portanto, apenas a luz visível, e dentro deste range de ondas azuis de mais alta energia, alcança a retina(2; 3; 9), mais precisamente a mácula lútea onde está localizada a maior concentração de fotorreceptores responsáveis pela visão central e pela alta resolução visual (acuidade visual)(21).

Estudos mostram que a luz azul é 50-80 vezes mais eficaz em gerar danos aos fotorreceptores em comparação a luz verde(8; 22).

A exposição contínua à luz azul leva a danos fotoquímicos, desencadeando a formação de radicais livres e ROS através de fotos sensibilizadores, provocando sérios danos oxidativos na retina, principalmente ao Epitélio Pigmentado da Retina (EPR) e aos fotorreceptores. Os foto sensibilizadores, como a lipofuscina, (material intracelular pigmentado resultante da oxidação de ácidos graxos e proteínas), podem aumentar o dano fotoquímico associado a exposição à luz azul e afetar a capacidade do EPR de proporcionar nutrientes para os fotorreceptores, alterando a sua funcionalidade e até mesmo contribuindo para apoptose (morte) das células do epitélio pigmentar e dos fotorreceptores(5; 9; 23).

Nas crianças, mais de 80% de luz azul é transmitida para a retina. Com o aumento da idade, a lente fica mais opaca (“amarela”) devido a processos oxidativos e passa a absorver uma parte da luz azul, mas ainda deixando uma considerável porção a ser transmitida para a retina(9). A remoção do cristalino durante a cirurgia de catarata, mesmo após a implantação de uma lente intraocular que filtra a luz UV, expõe novamente a retina a um alto risco de dano induzido por luz azul, uma vez que a nova lente é transparente. A utilização de um filtro de luz azul físico (externo) ou fisiológico (interno) adicional deve ser considerada nessa situação(2).

A retina não pode regenerar ou ser substituída se estiver danificada. Uma vez que o dano tenha ocorrido, os olhos ficam cada vez mais expostos à luz azul e a outros fatores ambientais nocivos, aumentando o risco de deficiência visual a longo prazo(20).

Além dos danos permanentes e irreversíveis a retina(3; 5; 9), inúmeros estudos mostram que a luz azul contribui para a diminuição da performance visual (sensibilidade ao contraste, alcance visual) e na recuperação da visão após foto estresse.

A Agência Sanitária Francesa (ANSES) publicou em 2010 um relatório onde expôs a sua preocupação, sobre o efeito danoso que a luz azul pode provocar, como o risco do brilho excessivo aos olhos, a vulnerabilidade da mácula a essa radiação e os problemas relacionados a isso, como a DMRI(24). Menciona também a importância de ações preventivas, como o aumento do pigmento macular como medida de proteção da mácula(24; 25).

O que podemos fazer para diminuir os riscos a essa exposição crescente?

Além de diminuir o tempo de exposição à radiação luminosa e as novas tecnologias que emitem essa radiação, a natureza nos oferece através da dieta, antioxidantes como a luteína e zeaxantina que podem atenuar os danos provocados pela luz azul e portanto, proteger nossos olhos e pele.

Luteína e zeaxantina são carotenoides, pigmentos amarelos com função antioxidante e de filtro de luz azul. Assim como outros carotenoides, não são sintetizados pelo corpo, e são obtidos exclusivamente a partir da dieta(26). Vegetais de folhas verde escura possuem uma grande concentração de luteína, já vegetais e frutas de coloração laranja a amarelada(27), apresentam uma alta concentração de zeaxantina. A gema do ovo é considerada uma das melhores fontes de luteína e zeaxantina uma vez que, devido ao alto teor de gordura, esses carotenoides tem melhor biodisponibilidade(28; 29).

A luteína e a zeaxantina livre são absorvidas diretamente pelo nosso organismo e se depositam em tecidos específicos como os olhos, e em outros tecidos como a pele e o cérebro(25; 30), mas também são encontradas no cordão umbilical e no leite materno, mostrando assim a sua importância durante a gestação e no desenvolvimento infantil.

Nos olhos, mais precisamente na mácula, a luteína e zeaxantina formam o Pigmento Macular (PM) que atua como um filtro de luz (solar e artificial), com pico de absorção de 460nm(25) protegendo a mácula, quer filtrando a quantidade de luz incidente na retina, quer funcionando como um antioxidante, sendo eficaz em eliminar os foto sensibilizadores, inibindo a formação de ROS e a peroxidação de lipídeos, preservando assim, a integridade das membranas dos fotorreceptores que são desencadeadas tanto pelo dano luminoso, como pelo próprio metabolismo retiniano interno(9; 31). Estudos epidemiológicos sugerem que as pessoas com maior exposição à luz solar, incluindo luz azul, tem maior risco de desenvolver doenças degenerativas da retina(32).

Por absorver as ondas luminosas de alta energia, o pigmento macular contribui também para uma melhor performance visual, melhorando a acuidade e o alcance visual, a visão em condições de pouca luz, o tempo de recuperação após exposição ao brilho excessivo (ofuscamento) e a sensibilidade ao contraste cromático(23; 25; 33; 34).

A capacidade do pigmento macular em absorver e filtrar a luz azul, é utilizada para determinar a Densidade Óptica do Pigmento Macular (MPOD), uma medida (não invasiva) que indica a quantidade de luteína e zeaxantina presente na mácula(26).

Estudos epidemiológicos e de intervenção têm mostrado que uma dieta rica em luteína e zeaxantina, seja por meio de alimentos ou suplementos, resulta no aumento da concentração plasmática desses carotenóides e da MPOD e, consequentemente, melhora o desempenho visual e diminui o risco de incidência e progressão da DMRI(23; 25; 35; 36; 37; 38; 39; 40).

A ingestão de quantidade adequada de luteína e zeaxantina também beneficia a pele, por aumentar a sua capacidade antioxidante e de filtro de luz azul, o que diminui os efeitos nocivos provocados pelos raios UV e luz visível e confere às células uma proteção maior contra o foto envelhecimento, protege os queratinócitos e os fibroblastos e aumenta a viabilidade celular. A luteína atua na melhora das respostas inflamatórias da pele frente a macrófagos e queratinócitos, suprimindo mediadores inflamatórios(41).

Estudos recentes mostram também que a luteína é capaz de induzir a síntese de ácido hialurônico nos queratinócitos, fornecendo o possível mecanismo de ação para o aumento da hidratação e lipídios superficiais, promovendo uma melhor elasticidade da pele observado nos ensaios clínicos(12; 19; 42).

Apesar de sua concentração no plasma e nos tecidos estar relacionada com a sua ingestão(30; 33; 36; 43; 44; 45; 46), estudos mostram que a população mundial não consome quantidade suficiente de alimentos que contenham esses dois carotenoides, tornando a suplementação uma ferramenta para alcançar níveis séricos ideais para a manutenção da saúde ao longo da vida(47).

Conclusão

Independente de onde estivermos, a radiação luminosa natural ou artificial nos rodeia diariamente em todas as etapas de nossa vida, e tem acelerado problemas relacionados à fototoxicidade nos olhos, atingindo diretamente a retina, responsável pela visão e o foto envelhecimento da pele, com a produção excessiva de radicais livres nas camadas mais profundas como a derme.

O sol que antes era o nosso único emissor de ondas eletromagnéticas no espectro que atinge diretamente nossos olhos e pele, ganhou nos últimos anos inúmeros aliados como luzes artificiais de LED e equipamentos eletrônicos, que emitem radiação com comprimentos de onda de elevada energia.

O fato é que todos nós, independente de faixa etária, hábitos e rotinas profissionais e de lazer, estamos expostos mais do que nunca à luz azul.

Embora parte dessa luz azul seja benéfica e necessária para o nosso relógio natural circadiano, e sua utilização possa fazer parte da evolução tecnológica e de uma vida cada vez mais moderna, a exposição excessiva pode ter um efeito negativo e causar danos cumulativos.

Frente a esse problema, o nosso organismo utiliza compostos antioxidantes naturais, presentes em nossa dieta para proteger e combater os efeitos danosos que os radicais livres e a ROS provocam. Mas, uma alimentação inadequada e/ou com quantidades insuficientes destes carotenoides podem nos deixar desprotegidos e vulneráveis aos danos desencadeados pela luz azul. Portanto, uma suplementação adequada desses carotenoides é fundamental para a manutenção de nossa saúde em geral.

Wládia Möller Vilar é erente da Área Técnica & Regulatória Human Nutrition and Health Division - Kemin.

Kemin do Brasil Ltda.

Tel.: (19) 2107-8053

www.kemin.com




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