A sustentabilidade de um processo ou de um sistema consiste em permitir sua permanência durante um determinado prazo, ou seja, permitir que continue viável enquanto for necessário. Pensando em sustentabilidade ambiental, esse conceito se refere a garantir que o planeta e os recursos naturais estejam disponíveis para as gerações futuras. Esse tema tem sido cada vez mais discutido diante da possível escassez de recursos e as consequências da intensificação do efeito estufa.
Diante de uma questão tão relevante, é cada vez maior o número de empresas no setor alimentício que buscam adotar práticas ambientais, movimento este muito atrelado às tendências sinalizadas pelos próprios consumidores. Segundo um levantamento realizado pela Kantar neste ano, a proteção ambiental é uma grande oportunidade para empresas de bens de consumo massivo. Entre as características mais apontadas pelos consumidores estão a substituição de embalagens plásticas, transparência no processo de reciclagem e conceitos como “alimentos naturais” e “livre de carbono”. Da mesma forma, uma pesquisa feita pela ADM também apontou “preocupação com sustentabilidade” como uma das diretrizes para a indústria de alimentos em 2021. Além disso, atenta às demandas dos consumidores em todo o mundo, a FAO - agência das Nações Unidas para agricultura e alimentação - recomendou que seja ampliada a utilização de selos e certificações que indiquem sustentabilidade na produção agropecuária.
Neste sentido, empresas de produtos lácteos em todo o mundo tem buscado adotar práticas sustentáveis, tanto no processo de produção da matéria-prima nas fazendas, quanto no processamento e embalagem dos produtos. Alinhada com práticas deste tipo e sob o slogan “One planet. One health.”, um exemplo é a Danone. Recentemente a empresa foi pioneira em incluir os custos das emissões de carbono em suas métricas financeiras, com o objetivo de ajudar os investidores a entenderem o impacto ambiental da empresa.
Apoiada no conceito de economia circular, a Nestlé no Brasil é outro exemplo. Por meio de parcerias com catadores e cooperativas, pretende aumentar a reciclagem dos produtos e embalagens da marca e alcançar a meta de ter, até 2025, 100% das embalagens recicláveis ou reutilizáveis. Outros exemplos de multinacionais que vêm apostando em reciclagem são Saputo, Müller e Fonterra.
A redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE), principalmente do metano, é uma das maiores preocupações ambientais da indústria láctea. Segundo dados recentes, as emissões nos Estados Unidos caíram mais de 45% desde 1964. Isso se deu principalmente pelo aumento da eficiência produtiva dos animais, diminuindo o tamanho dos rebanhos e, ainda assim, aumentando a produção. Resultados semelhantes também foram observados no Reino Unido.
A Fonterra, empresa da Nova Zelândia, também tem se esforçado para diminuir suas emissões e seus produtores têm dado passos cada vez mais largos em direção a sustentabilidade. Além desse ponto, outras preocupações do Grupo são quanto ao manejo e utilização de água e uso de fertilizantes. A empresa investe também em soluções inovadoras, como o desenvolvimento recente de um suplemento alimentar que reduz as emissões de metano.
A Dairy Farmers of America, cooperativa dos Estados Unidos, segue na mesma linha. Recentemente anunciou o compromisso de reduzir as emissões GEE da cadeia de valor em 30% até 2030, tornando-se a primeira cooperativa de laticínios dos Estados Unidos a tomar esta medida. Além disso, a cooperativa pretende obter a marca de neutralidade em carbono até 2050.
Também pensando em sustentabilidade e com uma iniciativa totalmente inovadora, a Arla Foods no Reino Unido está transformando dejetos de vacas em combustível para os caminhões de leite da empresa. O processo também criará fertilizantes para serem utilizados pelos produtores nas fazendas. Essa iniciativa visa reduzir a utilização de combustíveis fósseis e, consequentemente, a emissão de GEE. Na mesma linha, no Brasil, a Cooperativa Santa Clara completou 10 anos utilizando energia renovável em suas instalações e, segunda a empresa, a iniciativa gerou uma redução de 12,8 mil t de CO2 emitidos.
Diante de tantas tendências e iniciativas nesse sentido, não há dúvidas de que o futuro do setor lácteo passa pela sustentabilidade. Pensando nisso, o Dairy Vision 2020 - evento voltado para tendências do setor, realizado de 01 a 04 de dezembro, de forma virtual - contará com o painel “O setor lácteo, sustentabilidade e comunicação”. Uma das palestras, inclusive, será ministrada por Yann-Gãel RIO, Vice Presidente de Agricultura na Danone, sobre a visão da empresa para o futuro dos lácteos. Esse painel terá também a apresentação de Brian Lindsay, da Global Sustainability Network, que mostrará o que vem sendo feito pelo setor. A GSN desenvolveu uma metodologia em parceria com outras entidades, para a avaliação do balanço de carbono do setor.
Tomi Síren, Head de Transformação Digital da Arla na Finlândia, mostrará como a utilização de blockchain pode ser empregada para o monitoramento da sustentabilidade, e Elizabeth Whitlow, diretora executiva da Regenerative Organic Certified, falará sobre Agricultura Regenerativa, um termo que se ouvirá falar muito no futuro próximo. A agricultura regenerativa trata das interações do solo e do microbioma envolvendo sequestro de carbono; dados mostram que até 2019, mais de 70 novas empresas, com valor de mercado US$ 47,5 bilhões, movimentaram o cenário de investimentos.
Fonte: Milk Point