O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) anunciou recentemente a pretensão de lançar ainda este ano o que vem sendo chamado de Plano Nacional de Proteínas Alternativas. Esse plano, conforme o que já se sabe, terá como foco o mercado plant-based, afinal, esse é um segmento que se consolida no país e globalmente, tendo potencial importante também no que abrange exportações para as indústrias brasileiras.
O plant-based tem como base proteínas alternativas como soja, ervilha, lentilha, grão de bico e tantas outras, representando um mercado que alcançou em 2019 US$ 42.258,97 milhões, conforme dados do Market Study Report LLC.
O sistema alimentar global está se recalibrando na esteira de muitos fatores, um dos quais é a crescente demanda por proteínas. Isso tem estimulado a categoria de proteínas alternativas. Estima-se que esse mercado deva chegar a US$ 17,9 bilhões em 2025.
Conforme previsões da ONU, a população mundial deve atingir 9,8 bilhões em 2050. Essa população crescente é marcada por vários desafios sem precedentes. Um dos mais significativos é garantir acesso a alimentos adequados, sustentáveis e nutritivos a tantas pessoas. A ONU projetou que a produção de alimentos teria de ser aumentada em 70% para alimentar a população mundial até 2050. Esses fatores, aliados às mudanças no comportamento do consumidor, estão motivando a indústria a inovar em proteínas alternativas e o mercado a consumir mais alimentos com esse tipo de ingrediente.
E, dentro desse segmento, há um interesse renovado em proteínas de origem vegetal, especialmente pelo público que tem aderido ao vegetarianismo, veganismo ou flexitarismo e, ainda, por aqueles que procuram produtos clean label e que primam pelo bem-estar animal.
"O desenvolvimento do setor de proteínas alternativas vem com a proposta de alcançar consumidores de perfis diferentes. Essa inovação busca oferecer alternativas a produtos de origem animal sem minimizá-los, como as carnes vegetais (à base de proteína de soja, ervilha, entre outras leguminosas) com cheiro, textura e sabores semelhantes aos da carne, e também os leites à base de cereais, oleaginosas e sementes. Os novos produtos têm sido muito bem recebidos pelo público e o mercado internacional. No Brasil, o maior responsável pela expansão do mercado consumidor de proteínas alternativas foi o crescimento do público flexitariano", explica Renata Victoratti, nutricionista da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).
Caroline Assunção, consultora independente, engenheira de alimentos e doutora em ciência e tecnologia de alimentos, complementa, afirmando que a inovação baseada em vegetais é uma das áreas mais interessantes e de maior crescimento em alimentos. “Essas fontes podem incluir soja, ervilhas e lentilhas, entre outras. A soja é a fonte mais comum de proteína vegetal, disponível na forma de pó, granulado e texturizada para diversas aplicações e segmentos de uso final. As proteínas vegetais têm sido usadas pela indústria também por seus benefícios nutricionais e propriedades texturais".
Cabe destacar que, embora o destaque do Plano Nacional de Proteínas Alternativas deva ser as opções para produtos plant-based, na categoria de proteínas alternativas estão incluídas desde algas a leguminosas vegetais reprojetadas. "Pense em carne cultivada em laboratório, carne vegetal, proteínas unicelulares de leveduras ou algas e insetos comestíveis. Tudo isso também é proteína alternativa", explica Assunção.
Assim como há oportunidades para a indústria de alimentos atender a demanda crescente por produtos com proteínas alternativas, há também para a indústria de ingredientes fornecer insumos cada vez mais diversificados e focados nesse mercado. "Além de poderem ser consumidas como análogo da carne, as proteínas vegetais texturizadas podem fornecer um ingrediente alimentar econômico, funcional e rico em proteínas, que pode ser utilizado pela indústria de alimentos para formulações plant-based. A proteína vegetal texturizada também pode ser utilizada como intensificador de sabor e espessante em molhos, sopas, snacks, alimentos prontos para consumo e outros", explica Assunção.
Para que a indústria de ingredientes forneça essas soluções, Victoratti indica que é importante permanecer inovando e desenvolvendo pesquisas para apoiar o uso desses ingredientes e suas aplicações junto a indústria de alimentos e bebidas. "É preciso que as indústrias de ingredientes continuem focando seus esforços em pesquisa e desenvolvimento para melhorar técnicas de produção que possam aprimorar o aproveitamento e variedade dos cereais e leguminosas, além da soja e ervilha, ingredientes mais utilizados na produção de produtos vegetais atualmente", avalia a especialista.
Em 2050, estima-se que 265 milhões de toneladas extras de proteína serão necessárias para atender as demandas da população mundial. Encontrar novas fontes de proteína é, portanto, essencial. De soja, sementes oleaginosas e leguminosas a fluxos secundários de reciclagem ou ingredientes mais novos, como microalgas ou insetos, esse é um segmento que deve receber cada vez mais atenção de governos, órgãos regulatórios, indústria de ingredientes e de alimentos embalados e do consumidor.
Hoje, o Brasil se destaca no mercado global especialmente como fornecedor de commodities. Mas o país tem diferenciais importantes que podem favorecer a sua atuação na exportação também de alimentos e bebidas plant-based. Os recursos agrícolas e a biodiversidade única são elementos que podem incentivar o país a agregar valor à sua produção e a conquistar uma fatia maior desse mercado que cresce cada vez mais globalmente.
"O Brasil já é um dos países que mais exporta alimentos no mundo, incluindo grãos (que atualmente são destinados em sua maior parte à alimentação animal), e essa experiência sólida das indústrias já caracteriza um grande passo para enxergar a necessidade de inovação e direcionamento do segmento de proteínas alternativas para a produção e oferta de produtos à base de vegetais para consumo humano. Temos o setor de agronegócio desenvolvido no que tange à produção no país, e com um novo estímulo para o desenvolvimento e ampliação do conhecimento científico e tecnológico aliados à infraestrutura de comunicação e venda que as empresas nacionais já possuem, o Brasil pode avançar rumo a conquista de um mercado consumidor crescente e ávido por produtos que sejam benéficos para a sua saúde e meio ambiente, não só em nível nacional, mas, também, internacionalmente" complementa Victoratti.
Cleber Soares, diretor de inovação do Ministério da Agricultura, explica que com o Plano Nacional de Proteínas Alternativas a intenção é estimular o desenvolvimento não só de ativos, mas também de mercado e tecnologia. “É preciso olhar tudo isso como oportunidade. Não dá para imaginar que o Brasil vai ser apenas um grande exportador de commodities. Por que não agregar valor transformando soja, feijão e grão de bico, por exemplo, em proteína?”.
Recentemente, o Ministério da Agricultura fez comentários a respeito da preparação do Plano Nacional de Proteínas Alternativas. Conforme informações prévias, esse plano deverá ser lançado ainda em 2021 e deverá contemplar um fomento à pesquisa e tecnologia no país, priorizando a categoria de produtos plant-based. O valor para esse incentivo ainda não foi divulgado, visto que o plano encontra-se em fase de construção inicial, sendo ainda objeto de discussão junto a entidades e dentro do ministério. A partir dele, deve-se ter diretrizes sobre quais proteínas alternativas deverão ser o foco produtivo, quais tecnologias serão aplicadas para isso e como elas chegarão até os produtores, entre outras questões.
Fonte: Food Connection