Com os consumidores sedentos por soluções que proporcionem uma experiência geral de bem-estar, as bebidas funcionais estão em alta demanda. Com isso, o desenvolvimento de novos produtos está crescendo e os ingredientes funcionais estão rapidamente se tornando os ingredientes principais.
Nesse campo, o programa de tendências da Givaudan, o FlavourVision, rastreia várias tendências de consumo, incluindo uma conhecida como "bem-estar em camadas", que aborda os aspectos físicos e mentais, emocionais, sociais e espirituais do bem-estar.
Em 2020, a empresa atualizou o FlavourVision para entender como a pandemia está afetando os consumidores. “Vimos a tendência do ‘eu aumentado’ fortalecido como resultado da pandemia. Antes da pandemia, aumentar o self era amplamente focado no desempenho, mas agora engloba a construção de imunidade e proteção contra vulnerabilidades. Não há melhor aplicação do que bebidas para apoiar o bem-estar. A bebida funcional certa pode se tornar parte integrante da rotina de autocuidado”, disse Romain Thevenot, gerente global de produtos botânicos para alimentos e bebidas da Givaudan.
De acordo com Thevenot, as principais demandas em termos de funcionalidade estão centradas em imunidade e relaxamento, acompanhadas por pedidos de naturalidade, rótulo orgânico e limpo. “Os botânicos oferecem um excelente campo para atender a essas demandas, pois se conectam com benefícios para a saúde por meio de tradições e ciência e fornecem experiências de sabor autênticas. A pandemia colocou mais foco em temas como relaxamento, sono e redução do estresse, todos ajudam a manter um sistema imunológico saudável”, acrescenta.
Isso gerou um interesse intensificado em nutrição, ingredientes funcionais e suplementos para manter a saúde e proteger contra doenças. Essas tendências, aliadas a transparência e ingredientes naturais, aumentaram a demanda por ingredientes provenientes da natureza. “A vitamina C da acerola é um ótimo exemplo de ingrediente botânico que vem com alegações de saúde pré-aprovadas relacionadas ao seu alto teor de vitamina C. Também tem um posicionamento interessante graças a sua origem geográfica no Brasil e a história de sustentabilidade”, comenta Thevenot.
De acordo com John Quilter, vice-presidente global de tecnologia de saúde proativa da Kerry, outra grande tendência é a demanda por vários benefícios, como por exemplo, bebidas que oferecem saúde imunológica junto com outras alegações, como energia.
Para Vicky Berry, gerente de desenvolvimento de negócios da Synergy Flavors, a empresa vê mais lançamentos com foco na mente e na alma, com reivindicações calmantes ou relaxantes. “É importante entender como trabalhar com esses ingredientes com sabores que complementam a base e a alegação. Por exemplo, extratos de lavanda e camomila têm o 'foco de saúde' natural. Vemos as alegações de beleza também aumentando em alimentos e bebidas, com ingredientes como colágeno e vitamina E. Trata-se de compreender os sabores como um elo do consumidor com a beleza e há muitos perfis refrescantes nesse espaço, como pepino e melancia, por exemplo”, observa.
De acordo com Thevenot, da Givaudan, os perfis de sabor híbridos estão no centro das atenções, especialmente quando criados pela combinação de sabores funcionais e tradicionais. “Por exemplo, para atingir um conceito de relaxamento, você pode combinar ingredientes de camomila ou lavanda com um sabor de fruta natural mais clássico”, exemplifica.
Para Rosie Travers, HSF e gerente de categoria H&W da Treatt, a Covid-19 criou uma espécie de público cativo, com consumidores potencialmente mais receptivos a novos sabores e experiências no campo de alimentos e bebidas. “Estamos trabalhando muito com o uso de ervas e botânicos para criar soluções exclusivas com perfis de sabor interessantes, bem como pesquisando nossos produtos atuais que podem ser multifuncionais nessa área. É um momento emocionante para o setor de bebidas, pois as ideias e percepções das pessoas sobre bebidas para adultos estão mudando, levando as empresas a serem mais criativas com as suas soluções de sabores e mais inovadoras com a experiência do cliente final”, explica.
Já para Micah Greenhill, diretor de marketing de bebidas da ADM, os perfis de sabor azedo estão crescendo em interesse à medida que os consumidores os associam à saúde digestiva. “Alimentos e bebidas fermentados estão mudando o paladar dos consumidores, o que os leva a buscar sabores mais fortes e picantes”, observa.
Greenhill ressalta que também há interesse crescente em sabores regionais e globais e favoritos clássicos, e a diversão começa com uma mistura de ambos. “Por exemplo, as frutas cítricas estão associadas à função imunológica, aumento da energia e melhora do humor. Os consumidores estão experimentando ofertas globais como kumquat e yuzu, limão siciliano e lima do Taiti, bem como variedades como laranja amarga, toranja rosa e tangerina”.
Além de sabores conhecidos como menta, lavanda e rosa, novas combinações com flor de sabugueiro, hibisco e açafrão estão na moda. “Nosso portfólio de extratos botânicos e pós de frutas e vegetais inclui produtos que podem fornecer suporte à função imunológica e promover energia por meio da cafeína natural”, destaca Greenhill.
June Lin, vice-presidente global de marketing, saúde e bem-estar da ADM, diz que os consumidores estão exigindo ingredientes funcionais para manter a energia, melhorar o foco cognitivo, apoiar a função imunológica, reduzir o estresse e fornecer melhorias para impulsionar o humor. “Eles querem maneiras convenientes de consumir nutrientes vitais e as bebidas são uma ótima opção para atender a essa demanda”, destaca.
De acordo com Greenhill, as misturas em pó e os formatos prontos para beber (RTD) estão em expansão. À medida que os consumidores começam a sair das suas casas, as bebidas que atraem estilos de vida em movimento estão tendo um interesse maior. “Essas bebidas se encaixam em estilos de vida agitados e permitem que os consumidores atinjam os seus objetivos de saúde e bem-estar de maneira mais conveniente”, avalia.
A ADM está criando cafés prontos para beber, chás, águas aromatizadas e bebidas alcoólicas. A empresa também vê um desejo maior por bebidas densas em nutrientes que sinalizam benefícios para a saúde. “A nutrição esportiva é uma área rica em oportunidades para incorporar ingredientes funcionais, apelando para atletas competitivos e do dia a dia. Como outro exemplo, as bebidas de hidratação que contêm extrato de chá verde têm uma fonte natural de cafeína para energia extra”, explica Greenhill.
Outra tendência são as bebidas com baixo teor alcoólico. Nesse campo, muitos dos produtos de redução de açúcar da Treatt têm sido usados com sucesso para melhorar o mouthfeel em bebidas com baixo/sem álcool. “Também estamos procurando novos ingredientes que possam ser úteis nesse mercado, como por exemplo, o Jambu, uma erva do Brasil que está sendo considerada no mercado de bebidas não alcoólicas devido às suas propriedades entorpecentes que podem ajudar a imitar o álcool”, detalha Travers.
Quilter, da Kerry, observa que alguns fatores interessantes são exclusivos da categoria de bebidas. “Muitos consumidores estão rejeitando opções de bebidas que agora são percebidas como menos saudáveis. Por exemplo, estudos em vários países revelaram uma queda acentuada no consumo de álcool entre os jovens, em parte porque estão preocupados com os riscos para a saúde. Também há evidências de que muitos estão abandonando os refrigerantes. Sua busca por alternativas criou espaço para os fabricantes inovarem com ingredientes funcionais”, comenta.
Da mesma forma, no segmento de bebidas energéticas, os fabricantes respondem à demanda dos consumidores por produtos com uma funcionalidade mais suave e natural do que as opções com alto teor de açúcar e cafeína que tradicionalmente predominam. “Eles estão cada vez mais formulando com ingredientes de alimentos integrais, como ginseng e ginkgo biloba, que oferecem benefícios percebidos à saúde e podem dar credibilidade, bem como um rótulo mais limpo”, observa Quilter.
Fonte: Nutrition Insight
