Uma das questões que paira sobre a pesquisa em pós-bióticos é o que se entende por esse termo. Alguns pesquisadores e desenvolvedores de produtos ativos no campo interpretaram que significa qualquer coisa associada a organismos probióticos, incluindo seus muitos metabólitos potenciais.
Os autores de um novo artigo publicado na revista Gut Microbes, cuja base foi o trabalho de uma equipe multinacional de especialistas da Bélgica, Irlanda, Itália, França, México, Cingapura e Vietnã, se limitaram à definição de consenso publicada em 2021, pela Associação Científica Internacional de Probióticos e Prebióticos (ISAPP), que diz: “Uma preparação de microrganismos inanimados e/ou seus componentes que confere um benefício à saúde do hospedeiro”.
Os microrganismos podem ser tornados inanimados geralmente por tratamento térmico. Os produtos resultantes têm várias vantagens significativas sobre seus irmãos potencialmente formadores de colônias, pois são muito mais estáveis na prateleira e apresentam menos risco quando usados com populações vulneráveis, como indivíduos muito jovens ou imunocomprometidos.
Os pesquisadores postularam quatro principais mecanismos de ação para os postbióticos: alteração do microbioma intestinal diretamente; estimulação de junções apertadas entre células epiteliais; estimulação de uma camada de mucosa intestinal mais robusta; e função de modulação da resposta imune.
Uma das áreas que os autores apontam como grande promessa para os probióticos é em crianças muito pequenas. A diarreia, causada principalmente por infecções por rotavírus, é uma das principais causas de morte entre crianças pequenas nos países em desenvolvimento. Segundo os pesquisadores, muitas dessas crianças exibem uma “falha de crescimento” pós-infecção, com alterações no microbioma intestinal que podem durar meses, mesmo que sobrevivam à fase aguda. Os probióticos de lactobacilos vivos demonstraram eficácia nessas situações, tanto por diminuir a gravidade e duração da fase de diarreia aguda, quanto por ajudar a preservar a riqueza do microbioma após o evento; e mais, uma variedade morta pelo calor mostrou funcionar ainda melhor nesse sentido.
Um pós-biótico também pode ser uma escolha melhor no caso de um paciente ter sido tratado com antibióticos, disseram os pesquisadores. Nesse caso, geralmente acredita-se que o tratamento com antibióticos dificulta a germinação e o desenvolvimento dos organismos probióticos, enquanto os pós-bióticos, que exercem seus efeitos de forma inanimada, contornam essa dificuldade.
Ainda segundo os autores desse novo estudo, também há um crescente corpo de pesquisas sobre os efeitos dos pós-bióticos nas áreas de alergias e infecções do trato respiratório superior. Três estudos incluídos nessa revisão encontraram evidências de efeitos positivos na supressão de reações alérgicas, bem como na redução da incidência de infecções do trato respiratório superior. Quase todos os 10 estudos citados foram duplo-cegos, controlados por placebo.
Os autores destacaram que a pesquisa está apenas começando em outras aplicações potenciais dos pós-bióticos. Um estudo encontrou melhorias de memória entre mais de 300 indivíduos que sofrem de doença de Alzheimer leve, enquanto outro, usando 60 estudantes de medicina focados exames como coorte, encontrou resultados positivos nos marcadores de estresse. Um terceiro estudo encontrou melhor sensibilidade à insulina e perda de peso em comparação ao placebo em uma coorte obesa tratada com um pós-biótico pasteurizado de A. munciphilia.
Para os pesquisadores, o futuro parece brilhante para a pesquisa pós-biótica, especialmente quando a promessa da edição genética é levada em consideração. “A edição do genoma probiótico já existe e poderia ser usada com pós-bióticos para modificar as bactérias precursoras, gerando novas intervenções pós-bióticas. Além disso, os avanços no mapeamento metagenômico do microbioma podem elucidar ainda mais as interações entre microrganismos comensais e o intestino, bem como fortalecer as evidências de pós-bióticos. Isso pode até ser estendido à fenotipagem individualizada do microbioma para prevenir doenças, embora isso esteja muito longe”, disseram.
Os pesquisadores concluíram que os pós-bióticos são seguros e estáveis, com uma longa vida útil, permitindo facilmente armazenamento e transporte, administração durante o tratamento com antibióticos sem afetar a eficácia, tornando-os uma alternativa atraente aos probióticos. Há evidências crescentes dos benefícios clínicos dos pós-bióticos no manejo de condições altamente prevalentes, incluindo distúrbios gastrointestinais, dermatológicos e neurológicos, bem como infecções respiratórias e síndrome metabólica.
Fonte: Nutra Ingredientes