Desde que foram adotadas medidas preventivas de distanciamento social e migração de todos os afazeres do dia a dia para dentro de casa, uma série de mudanças foram incorporadas às rotinas, de hábitos de higiene a novos hábitos de consumo. Recentemente, um relatório divulgado pela Kantar revelou que 61% dos brasileiros planeja manter a maioria dos novos hábitos adquiridos durante a pandemia, cabendo um olhar atento para alguns deles.
Sob a ótica da produção e oferta de alimentos e bebidas, algumas mudanças são importantes: 54% dos entrevistados dizem estar comendo de forma mais saudável; 46% dizem que irão manter o hábito de realizar compras online; e 74% dizem que continuará evitando lugares lotados, mesmo após o fim da pandemia.
Por trás de cada um desses dados se escondem algumas oportunidades. No caso da manutenção de uma alimentação mais saudável, nota-se o maior interesse do consumidor por formulações que priorizem ingredientes naturais e que possam contribuir com o bem-estar físico e mental. Aqui se incluem desde bebidas fortificadas, como bebidas lácteas com alto teor de proteína, a snacks e pequenas indulgências com alto valor nutricional, a exemplo do creme de açaí.
Além de responderem ao desejo por saudabilidade, esses são alimentos que agregam conveniência ao dia a dia do consumidor, justamente por virem prontos para consumo. Especialmente no caso de famílias com filhos, a oferta desses produtos surge como um facilitador em uma rotina já bastante atribulada entre afazeres domésticos e trabalho remoto, no caso de pais trabalhando no modelo de home office.
Sob a perspectiva da indústria, são alimentos e bebidas com modelo de processamento similar ao de outros produtos tradicionalmente encontrados no mercado, portanto, não demandando altos investimentos em aquisição de novas tecnologias.
Oferecer produtos pensados para as diferentes situações de consumo presentes em um único dia, desde que equacionando saudabilidade e conveniência, será preponderante de agora em diante. Mas cabe uma ponderação: em função da restrição de orçamento imposta a muitas famílias, o preço será um componente ainda mais importante. Trabalhar com valores acessíveis ou dentro da média de mercado será decisivo na escolha do consumidor.
Em outra ponta, também existe aquele consumidor que tem aproveitado o maior tempo em casa para explorar novas receitas e desenvolver novos talentos culinários. Por causa disso, produtos para receitas caseiras têm registrado alta durante a pandemia, a exemplo do leite condensado (61%), creme de leite (45%) e leite longa vida pronto para beber (39%), segundo dados levantados pelo mesmo estudo da Kantar.
Se considerado que quase ¾ dos brasileiros seguirá evitando lugares lotados mesmo após o término da pandemia, é de se esperar que produtos básicos para consumo doméstico se mantenham em alta por algum tempo, o que traz oportunidades a fabricantes querendo investir em diversificação de portfólio ou em ampliação de linhas de processamento e envase.
No que diz respeito a distribuição, o avanço do supermercado online se mostra até aqui um grande divisor de águas. Quanto mais as medidas de distanciamento social se estenderem no tempo, maiores serão as chances do comércio online moldar os hábitos de consumo pós-pandemia.
Ainda que a pandemia seja passageira, alguns comportamentos adquiridos durante a quarentena não serão. Desde hábitos completamente novos a mudanças que já se desenhavam e que nos últimos meses ganharam tração, a verdade é que hoje há uma série de fatores influenciando o ambiente de negócios. Manter um olhar atento para essas mudanças e desenvolver produtos que respondam aos novos anseios do consumidor será preponderante para a gestão e manutenção dos negócios no setor de alimentos e bebidas.