Premiumização do CAFÉ e do CHÁ: RTD e experiências sensoriais inovadoras

A chamada “premiumização” deixou de ser um movimento de nicho e tornou-se um fenômeno central no setor de bebidas. Os consumidores passaram a enxergar o café e o chá como experiências culturais, sensoriais e até de estilo de vida. Segundo a Grand View Research (2024), o mercado global de café RTD (ready to drink) alcançou US$ 29,44 bilhões e deve atingir US$ 42,46 bilhões até 2030, com CAGR de 6,2%. O segmento de chá segue tendência semelhante: de acordo com a Future Market Insights (2024), o mercado global de chá RTD deve alcançar US$ 33,7 bilhões até 2033, crescendo a uma taxa de 5,5% ao ano.
Esse crescimento está atrelado a três principais fatores: conveniência, saúde e diferenciação sensorial. Para atender a esse novo perfil, a indústria de ingredientes desempenha papel estratégico, desenvolvendo soluções que equilibrem estabilidade tecnológica e apelo premium.
INGREDIENTES DE ALTO VALOR AGREGADO: BASE DA DIFERENCIAÇÃO
A seleção dos ingredientes é a essência desse novo movimento. Nos cafés, a valorização de grãos especiais (specialty coffee) e origens controladas gera diferenciação sensorial e storytelling. Já nos chás, blends com flores, especiarias e frutas exóticas oferecem experiências complexas e posicionamento sofisticado.
Do ponto de vista técnico, destacam-se:
- Aromas naturais encapsulados: usados para proteger compostos voláteis durante processamento térmico e armazenamento.
- Extratos padronizados: como catequinas de chá-verde e polifenóis de hibisco, que reforçam apelos funcionais.
- Sistemas de dulçor natural: stevia e monk fruit em combinações sinérgicas para reduzir açúcar mantendo equilíbrio sensorial.
- Antioxidantes naturais: como extrato de alecrim e tocoferóis, que garantem shelf life sem comprometer o perfil “clean label”.
Processos tecnológicos: estabilidade e frescor como diferencial
Garantir que bebidas premium mantenham qualidade sensorial ao longo da vida de prateleira é um desafio técnico. Tecnologias como cold brew e infusão a frio de chás preservam compostos aromáticos e reduzem acidez, mas exigem sistemas de conservação específicos.
Nesse sentido, a indústria de ingredientes contribui com estabilizantes naturais que controlam turbidez e sedimentação, além de técnicas de microfiltração para reduzir carga microbiana sem comprometer compostos bioativos. Há também a proteção antioxidante multicamada, combinando agentes hidrossolúveis e lipossolúveis.
Segundo relatório da Innova Market Insights (2023), 42% dos lançamentos de RTDs premium destacam tecnologias de extração diferenciadas, indicando o valor que os consumidores atribuem a esse aspecto.
Embalagem como extensão da experiência premium
A embalagem é um veículo essencial de percepção de qualidade. Garrafas de vidro fosco, latas slim com acabamentos metalizados e rotulagem minimalista estão entre os formatos mais utilizados. Mas além da estética, há uma crescente exigência por sustentabilidade.
Segundo a McKinsey & Company (2023), 60% dos consumidores de bebidas premium em mercados maduros consideram a sustentabilidade da embalagem fator decisivo na compra. Isso tem impulsionado o uso de bioplásticos, alumínio reciclável e vidro retornável.
Tendências regionais e culturais
Embora a premiumização seja global, assume nuances locais:
- Ásia-Pacífico: liderança em inovação em RTDs, especialmente no Japão, onde cafés enlatados premium fazem parte do cotidiano.
- Europa: foco em blends de chá com apelo funcional, explorando ervas medicinais tradicionais.
- América Latina: crescimento de RTDs à base de café especial, impulsionado pelo movimento de valorização de origem.
Regulamentação e olhar para o futuro
O apelo premium também está ligado à transparência. Informações como origem do grão, métodos de torra, certificações orgânicas e fair trade são valorizadas. Regulamentações sobre rotulagem de alegações funcionais (como teor de antioxidantes) estão se tornando mais rigorosas no mundo todo, exigindo investimento em rastreamento da cadeia de suprimentos, padronização de extratos e comprovação científica de alegações funcionais.
Apesar do avanço, ainda há obstáculos técnicos e mercadológicos. Entre eles, estão a questão da estabilidade sensorial em shelf life longo sem conservantes artificiais, o controle de custos em ingredientes premium, sem perder competitividade, e a educação do consumidor para valorizar atributos como origem e processos de extração.
Por outro lado, as oportunidades são significativas. O mercado caminha para a convergência entre premiumização e funcionalidade. Segundo a Euromonitor International (2024), 45% dos consumidores globais buscam bebidas que unam prazer sensorial e benefícios à saúde, reforçando a importância de ingredientes bioativos em RTDs premium.
Ou seja, a premiumização do café e do chá em versões RTD representa uma das tendências mais consistentes e lucrativas do setor de bebidas, configurando um cenário fértil para inovação e diferenciação, em que a capacidade de entregar estabilidade, funcionalidade e autenticidade determinará os líderes do futuro.




























