Próxima tendência para inovar e buscar diferenciação em alimentos pode surfar uma onda naturalmente azul
Por Stella Munhoz*
A indústria brasileira de alimentos e bebidas desbrava continuamente muitos territórios para proporcionar novas experiências aos consumidores. Basta olhar as gôndolas nos supermercados para ver lançamentos surgindo diariamente, parte deles tracionados pelos consumidores, que buscam cada vez mais alimentos por atributos naturais e de saudabilidade. As cores continuam desempenhando papel essencial na experiência pré-consumo, esbanjando atratividade e impactando a decisão de compra. Nesse sentido, uma onda está despontando lá fora, com um mar de possibilidades e horizonte aberto também para o Brasil. E ela é naturalmente azul.

Muitos acreditam que oportunidades surgem quando há um problema ou demanda no mercado, em conjunto com os recursos certos para oferecer um produto ou solução. Talvez esta equação esteja na mesa da indústria alimentícia brasileira neste exato momento.
A pesquisa “Savoury Campaign”, concluída no final do ano passado pela Oterra, ouviu mil brasileiros e revelou percepções e sentimentos importantes dos consumidores em relação à cor azul.
Essa coloração aguça o desejo de quem tem curiosidade por sabores desconhecidos, bem como daqueles que abraçam novas tendências e enxergam valor agregado na experiência proporcionada pelos alimentos. Adicionalmente, o azul em itens alimentícios é mais apreciado pelas mulheres e por integrantes da Geração Z. Porém, de forma geral, 29% dos brasileiros gostariam de experimentar um hamburger azul, quase um terço dos consumidores.
A abertura do público no Brasil também existe para condimentos e, nesse caso, a preferência seria para tons mais fortes de azul. Isso não se dá por acaso. O público relaciona essa cor à energia que, por exemplo, pode se traduzir em picância. Além disso, as pessoas conectam alimentos com coloração azul a outras sensações como calma, refrescância, harmonia, elegância, leveza e harmonia. Ainda mais interessante são as percepções mencionadas em torno de mistério, imaginação, fantasia e aventura.
Esses atributos apontam inúmeros espaços de apropriação e campo para inovar, seja em produtos sazonais, edições limitadas ou linhas atreladas a algum lifestyle específico, incluindo opções veganas ou clean label. Imagine produtos que contam com licenciamento, por exemplo, arrebatando fandoms (representa a voz dos fãs em entretenimento), a partir de algum match impulsionado pela cor azul. Isso significa extrapolar a experiência para um relacionamento perene e memorável.

Essa conjunção já está sendo explorada com mais força em mercados mais desenvolvidos da América do Norte, Europa e região Ásia-Pacífico. Entre 2020 e 2024, o aumento nos lançamentos de produtos alimentícios na cor azul foi positivo em quase todos os países. Nos casos de Canadá, Alemanha, Austrália, e Estados Unidos, o crescimento está na casa dos dois dígitos e a evolução também é significativamente positiva no Reino Unido, Japão e França (lançamentos dos últimos 5 anos de acordo com Innova).
Já no Brasil, o segmento de suplementos explora bem o potencial da cor azul, mas esse movimento ainda é tímido na indústria de alimentos e concentrado nos confeitos, daí a oportunidade.
Sob a perspectiva da disponibilidade de corantes de fontes naturais e especialmente sustentáveis, o cenário melhorou bastante. O mercado contava com a espirulina e ganhou mais um aliado, o fruto do jenipapo (genipa americana), que acaba de receber aprovação no Mercosul e na ANVISA, e já tinha a do Codex Alimentarius e do órgão norte-americano FDA.
Desta forma, não faltam tons vibrantes e vívidos e, tampouco, condições propícias para diversos tipos de aplicação para a indústria, abrangendo bebidas lácteas e não lácteas, iogurtes, sorvetes, snacks, cereais prontos para consumo e doces, entre outros produtos.
De fato, oportunidade, demanda e recursos reunidos em um cenário muito favorável para os players que quiserem explorar esse mar de possibilidades e quem sair na frente pode encontrar um céu de brigadeiro para voar. Seja qual for a perspectiva, tudo azul para quem souber aproveitar bem o momento.
*Stella Munhoz é gerente global de Marketing da Oterra




























