Os ingredientes funcionais são foco de interesse tanto da indústria de alimentos e bebidas quanto do consumidor, que busca opções para manter a sua saúde por meio dos alimentos.

Segundo a Grand View Research, o mercado global de ingredientes funcionais foi avaliado em US$ 68,04 bilhões em 2020, devendo crescer a uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 6,4% até 2027, ano em que deverá atingir uma receita de US$ 105,64 bilhões.

Os probióticos lideram esse mercado e representaram 52,2% da receita global em 2019, porcentagem que cresceu mais ainda no último ano e que deve ser acelerada nos próximos anos.

Os produtos probióticos exibem uma área de crescimento vital dentro do grupo de ingredientes funcionais e fortes esforços de pesquisa estão em andamento para melhorar os produtos lácteos nos quais os organismos probióticos, como as espécies Bifidobacterium e Lactobacillus, estão integrados.

Os produtos à base de probióticos podem, por exemplo, se adaptar a composição microbiana intestinal, desenvolvendo a saúde intestinal através do desenvolvimento de tolerância à lactose em pessoas com intolerância à lactose ou resistência adquirida a bactérias patogênicas. O segmento de produtos probióticos em rápido crescimento oferece uma grande variedade de oportunidades, especificamente para empresas que entendem e atendem aos consumidores finais.

Além dos probióticos, os prebióticos, simbióticos e, mais recentemente, os pós-bióticos também são ingredientes que tornam o mercado de ingredientes funcionais mais forte e consolidado.

Os prebióticos constituem um grupo distinto dos probióticos. São definidos como ingredientes indigeríveis, porém fermentáveis, que afetam o hospedeiro por estimulação eletiva do crescimento e atividade de uma espécie de bactérias ou um número limitado de bactérias no cólon. Comparados com os probióticos, que introduzem bactérias exógenas para o lúmen, os prebióticos estimulam o crescimento preferencial de um número limitado de bactérias, especialmente, mas não exclusivamente, Lactobacillus e Bifidobacterium. Oligossacarídeos, como lactulose, galactooligossacarídeos, frutooligossacarídeos, inulina, oligofrutose, polidextrose e outros carboidratos alimentares são alguns exemplos bem conhecidos.

Os simbióticos, por definição, são produtos nos quais um probiótico e um prebiótico estão combinados, como é o caso, por exemplo, quando um prebiótico, como o frutooligossacarídeo, é adicionado a um iogurte probiótico. A interação entre o probiótico e o prebiótico in vivo pode ser favorecida por uma adaptação do probiótico ao substrato prebiótico anterior ao consumo. Isto pode, em alguns casos, resultar em uma vantagem competitiva para o probiótico, se ele for consumido juntamente com o prebiótico. Alternativamente, esse efeito simbiótico pode ser direcionado às diferentes regiões “alvo” do trato gastrointestinal, os intestinos delgado e grosso. O consumo de probióticos e de prebióticos selecionados apropriadamente pode aumentar os efeitos benéficos de cada um deles, uma vez que o estímulo de cepas probióticas conhecidas leva à escolha dos pares simbióticos ideais.

Já o conceito de pós-biótico é relativamente novo. De forma resumida, são obtidos a partir da fermentação dos probióticos, de modo que podem ser considerados como um subproduto deles. Quando fermentados e alimentados com moléculas fibrosas, os probióticos originam os pós-bióticos, cujas propriedades são capazes de ajudar na regulação do microbioma intestinal.

Além dos benefícios de saúde diretos na microbiota, os pós-bióticos podem ser de extrema importância para a segurança alimentar, garantindo um menor crescimento de patógenos em diversas matrizes alimentares.

De forma geral, o mercado global de ingredientes benéficos à saúde experimentou um crescimento bastante expressivo na última década. Nesse mercado também se incluem os nutracêuticos que, diferentemente do que muitos acreditam, não diz respeito a alimentos propriamente ditos, mas sim a produtos que possuem componentes alimentares funcionais isolados.

Os alimentos funcionais, de acordo com a definição geralmente aceita, é um alimento que pode trazer benefícios à saúde, além de nutrir o organismo com as substâncias que contêm. Essa é uma definição complexa, porque as substâncias presentes nos alimentos referem-se apenas as vitaminas e minerais. A razão é que são considerados essenciais para a dieta e/ou correção de uma deficiência de nutrientes clássicos, como por exemplo, a vitamina C, que corrige o escorbuto.

Já os nutracêuticos são frequentemente considerados como sinônimos de alimentos funcionais, sendo definidos como suplementos alimentares que contém a forma concentrada de um composto bioativo de alimento, apresentado separadamente da matriz alimentar e utilizado com a finalidade de melhorar a saúde, em doses que excedem aquelas que poderiam ser obtidas de alimentos. Em uma conceitualização mais simplificada, são os compostos e nutrientes encontrados em alimentos, mas apresentados de maneira mais concentrada, como por exemplo, o ômega 3 encontrado nos peixes, o licopeno encontrado nos tomates ou o betacaroteno contido nas cenouras e beterrabas. Todos esses alimentos possuem esses nutrientes, mas, muitas vezes na alimentação diária, não são ingeridos na quantidade benéfica para o organismo, e é nesse caso que entra a suplementação desses nutrientes com o uso de nutracêuticos.

Na verdade, a principal diferença entre nutracêuticos e funcionais é que os nutracêuticos incluem os suplementos alimentares e os alimentos fortificados que são enriquecidos com nutrientes não naturais, tais como o sumo de laranja com adição de cálcio, alimentos funcionais e alimentos médicos.

Embora os nutracêuticos como uma indústria tenham surgido no início da década de 1990, foi na primeira década deste século que realmente se apresentou mais fortemente ao mercado. Conforme levantamento da News-Medical, de 1999 a 2002, a indústria cresceu a uma taxa média anual de 7,3%, enquanto neste século a taxa subiu para 14,7%. E, com as mudanças favorecidas pela pandemia, essas taxas podem se tornar ainda mais expressivas.

Ainda segundo o levantamento da News-Medical, o mercado global de ingredientes nutracêuticosfoi avaliado em US$ 152 bilhões em 2019 e está projetado para alcançar US$ 228 bilhões em 2025.

Impulsionado pela busca dos consumidores por ingrediente que auxiliem na prevenção a doenças

crônicas, retardo do processo de envelhecimento e apoio as funções mais específicas do organismo, como o sistema imunológico, o mercado de ingredientes funcionais e nutracêuticos evidenciou uma busca acelerada por benefícios adicionais à saúde nas escolhas alimentares e de suplementação, com o consumidor passando a adotar mais consistentemente uma abordagem proativa em relação à sua saúde e bem-estar. E essa é uma tendência que veio para ficar, ou seja, o hábito adquirido de cuidar mais da saúde e de consumir produtos que tragam benefícios físicos e mentais deverá permanecer ao longo dos próximos anos, incluindo escolhas alimentares ainda mais conscientes. E a partir desse cenário, os ingredientes funcionais e nutracêuticos deverão encontrar um mercado promissor.

Da mesma forma, as crescentes preocupações com a saúde e suas comorbidades, como obesidade, diabetes e distúrbios digestivos, são fatores significativos projetados para impulsionar o crescimento da indústria nos próximos anos. Novos investimentos e introdução de produtos inovadores por grandes fabricantes resultaram em uma demanda considerável por ingredientes funcionais e nutracêuticos na indústria de alimentos e bebidas.

Hoje, a indústria de ingredientes funcionais e nutracêuticos representa um mercado dinâmico e em evolução, com oportunidades de crescimento trazidas especialmente pela combinação entre novas descobertas científicas e o crescente interesse do consumidor em alimentos que possam melhorar a saúde.

Esse mercado tem testemunhado expansões importantes no desenvolvimento de aplicações e inovação de produtos e a projeção é de que tais crescimentos e inovações sejam parâmetros significativos para serem competitivos nesse mercado nos próximos anos, com a indústria de ingredientes funcionais oferecendo cada vez mais produtos que atendam aos anseios dos consumidores por saúde e confiabilidade nos diversos setores que a indústria alimentícia atua.

Cada vez mais, o consumidor demonstra uma relação muito positiva com os alimentos funcionais relacionados a seus benefícios adicionais de saúde e bem-estar. O aumento da população geriátrica, o aumento dos custos com saúde, a mudança no estilo de vida, a inovação alimentar, e as descobertas médicas têm ajudado o crescimento geral do mercado de ingredientes funcionais e nutracêuticos e também a demanda por esses tipos de produtos nos mais variados setores da indústria alimentícia.

Márcia Fani

Editora