De acordo com a maioria dos institutos de pesquisa, o movimento clean label é a maior tendência da década em alimentos. Ingredientes minimamente processados e socialmente responsáveis se tornaram um imperativo inegociável nos rótulos dos alimentos, movimentando um mercado de US$ 180 bilhões em 2020.
Mas, apesar da cifra animadora e das perspectivas positivas, não existe uma definição legal, científica ou aceita em toda a indústria para o termo clean label, deixando a interpretação como bastante subjetiva para os consumidores e para a indústria.
O clean label já ronda o mercado desde 2015, mas a sua real origem até hoje não é conhecida. O movimento que começou tímido, foi ganhando força e hoje, embora não seja formalmente definido, se refere a produtos feitos com o mínimo possível de ingredientes, usando, principalmente ou exclusivamente, ingredientes que os consumidores podem facilmente reconhecer e identificar como íntegros ou saudáveis, além de minimizar ou evitar o uso de ingredientes artificiais ou produtos químicos sintéticos.
Endossado pela conscientização ambiental e de saúde e evidenciado pela pandemia da Covid-19, que desencadeou uma busca maior pelos consumidores por produtos saudáveis, o clean label se tornou uma tendência impulsionada pelo consumidor, surgindo como uma resposta à sua busca por informações mais claras sobre quais ingredientes estão nos alimentos que consome, de onde vêm esses ingredientes e como são produzidos. Nesse sentido, clean label pode ser usado como um estandarte para produtos que se concentram em ingredientes naturais e são feitos por empresas que são transparentes sobre as suas cadeias de suprimentos e processos de produção.
Com a crescente demanda, a indústria respondeu a esse apelo definindo dois conceitos básicos para as formulações de seus produtos: uso de ingredientes simples; e maior foco na pureza dos ingredientes, o que de acordo com o Institute for Food Technologists (sociedade científica internacional composta por profissionais envolvidos em ciência de alimentos, tecnologia de alimentos e áreas relacionadas na academia, governo e indústria), significa fazer um produto usando o mínimo de ingredientes possível e garantir que esses ingredientes sejam itens que os consumidores reconheçam e considerem saudáveis.
Partindo do consenso comum entre os especialistas de que o clean label veio para ficar, cada vez mais a indústria procura adotar práticas e métodos de produção que atendam a esse “conceito”, encurtando suas listas de ingredientes, substituindo ingredientes artificiais por alternativas naturais e tornando os seus designs de embalagens mais simples e claros.
Mas isso não é tão fácil como parece. Embora os consumidores considerem os produtos com lista de ingredientes mais curta como “mais limpos”, para a indústria de alimentos isso tem implicações mais amplas, que incluem reformulação, remoção e/ou substituição, o que pode levar meses de trabalho para garantir que a lista de ingredientes seja a única mudança perceptível em um produto. Além disso, ao mesmo tempo que os consumidores exigem uma lista de ingredientes mais curta, não abrem mão das propriedades organolépticas que esses alimentos proporcionam, com sabor, aroma, textura, etc. Equilibrar os desejos e necessidades dos consumidores com a real viabilidade da formulação é um desafio, mas não é impossível, e muitos fabricantes já encontraram a solução, através de ingredientes multifuncionais que oferecem a mesma gama de funcionalidades e da inovação nos processos de produção, atendendo, inclusive, as diretrizes para redução de sódio e açúcar nos alimentos, considerados por muitos consumidores como parte do padrão clean label.
Contudo, os padrões clean label vão além da substituição de aditivos artificiais ou da remoção de ingredientes controversos, ou ainda, da lista de ingredientes ou do que é destacado na embalagem dos produtos; também se refere aos seus impactos no meio ambiente e isso significa que os consumidores estão se tornando mais conscientes das práticas das empresas e como elas lidam com o desenvolvimento de seus produtos. Com isso, sustentabilidade e responsabilidade corporativa são essenciais para que os consumidores avaliem a qualidade de um produto e, para isso, cada aspecto é importante, desde o fornecimento de ingredientes, práticas justas de trabalho, bem-estar animal e poluição até práticas de fabricação, ou seja, a transparência deve abranger toda a cadeia de abastecimento.
O conceito clean label pode ter muitos significados, mas o principal é que fornece os benefícios da inovação e da tecnologia, traduzidos em alimentos saudáveis e seguros que fortalecem a relação entre o consumidor e a indústria.
Clean label não é mais uma tendência, mas sim, as novas regras do jogo; e os fabricantes que quiserem ampliar a sua participação no mercado devem ficar atentos a elas, não esquecendo que nesse jogo, o que importa é o que está dentro e não o que está fora das embalagens dos alimentos.
Márcia Fani
Editora