A busca por estilos de vida mais saudáveis está transformando os estereótipos sobre o envelhecimento em todos os grupos demográficos. Apoiar os consumidores para otimizar os seus anos saudáveis é uma área onde a indústria de alimentos e de ingredientes pode desempenhar papel fundamental, preenchendo as lacunas nutricionais através do desenvolvimento de alimentos e bebidas que ofereçam benefícios à saúde e suporte para um envelhecimento saudável.
Entre os ingredientes mais utilizados para essa finalidade estão os antioxidantes, que podem contribuir para reverter ou retardar o envelhecimento celular, principalmente nos processos envolvendo os radicais livres.
Um dos antioxidantes mais conhecidos é o resveratrol, um polifenol com diversos efeitos biológicos, encontrado em elevadas quantidades na planta Polygonum cuspidatum, nas uvas e no vinho tinto.
Segundo estudos, o resveratrol atua não somente contra o envelhecimento cutâneo, mas também contra o envelhecimento biológico de vários órgãos e sistemas, nomeadamente do sistema cardiovascular, esquelético e neurológico. É, ainda, uma molécula com propriedades anticancerígenas, antiangiogênicas, antibacterianas, antifúngicas e antivirais.
Outro ingrediente relacionado ao envelhecimento saudável é a coenzima Q10, também conhecida como ubiquinona, uma substância natural produzida pelo organismo, mas que decresce à medida que a idade avança.
As funções da coenzima Q10 são principalmente a nível da mitocôndria, a central energética das células. Quando os alimentos e o oxigênio são transformamos em energia (ATP), a parte final dessa transformação depende da presença da coenzima Q10 para que as células sejam capazes de produzir energia de forma eficaz. É também na mitocôndria, quando a produção energética é realizada, que ocorre uma elevada produção de radicais livres de oxigênio e onde a presença de níveis adequados de coenzima Q10 são necessário para diminuir a produção de radicais livres de oxigênio. Além disso, a coenzima Q10 desempenha papel antioxidante na regeneração de outros antioxidantes, como a vitamina C e a vitamina E.
Os probióticos e prebióticos também são listados como ingredientes relacionados ao envelhecimento saudável no que se refere ao microbioma intestinal, ajudando a prevenir ou reverter as alterações provenientes do envelhecimento.
O envelhecimento está associado a transformações na função imunitária e a motilidade intestinal, podendo ocorrer alterações no tipo e número de bactérias no intestino. O desequilíbrio do microbioma intestinal pode inibir a função intestinal, aumentando o risco de infecção e inflamação crônica, como diabetes, doenças cardíacas e certos tipos de câncer.
Também relacionada com a idade, a deterioração do sistema imunitário e a inflamação, são outras causas de mudanças no intestino relacionadas à idade. Uma dieta menos diversificada pode levar a redução da diversidade microbioma, comprometendo a saúde intestinal. Uma baixa ingestão de fibra prebiótica pode levar a diminuição da produção de ácido graxo de cadeia curta, como o butirato, o qual alimenta e protege as células intestinais; além do aumento de metabolitos prejudiciais.
Alguns probióticos, como os Lactobacilos e as Bifidobactérias, bem como algumas fontes de prebióticos, como a inulina e os frutooligossacarídeos, podem ajudar a prevenir ou reverter as mudanças relacionadas com a idade na microbiota intestinal. As Bifidobactérias, por exemplo, sintetizam vitaminas, como o ácido fólico, e produzem acetato e lactato, que podem inibir os patógenos.
Nos idosos, os prebióticos e probióticos podem alterar a composição da microbiota intestinal; prevenir e/ou tratar a diarreia associada a antibióticos; aliviar a constipação; e estimular o sistema imune de forma positiva, diminuindo o risco de infecção.
O grande uso das bactérias do gênero Lactobacilos em alimentos, decorre dos resultados de seu comportamento nos mesmos, como capacidade de fermentar açúcares, formando ácido láctico abundantemente; capacidade termodúrica, tornando-a resistente a tratamentos térmicos mais baixos; alta elaboração de ácido láctico, eliminando de seus substratos microrganismos competitivos; capacidade de formar substância voláteis, alterando valores sensoriais de determinados alimentos; e incapacidade de sintetizar a maioria das vitaminas exigidas, impedindo o seu crescimento em meios carentes desses nutrientes reguladores.
Atualmente, os alimentos probióticos disponíveis no mercado incluem sobremesas à base de leite, leite fermentado, leite em pó, sorvete, iogurte e diversos tipos de queijo, além de produtos na forma de cápsulas ou produtos em pó para serem dissolvidos em bebidas frias, sucos fortificados, alimentos de origem vegetal fermentados e maioneses.
Os prebióticos podem incluir féculas, fibras dietéticas, outros açúcares não absorvíveis, alcoóis do açúcar e oligossacarídeos, sendo que este último é encontrado como componente natural de vários alimentos, como frutas, vegetais, leite e mel.
Entre os oligossacarídeos naturais, os FOS (Frutooligossacarídeos) são os principais compostos reconhecidos e utilizados em alimentos, aos quais se atribuem propriedades prebióticas.
Presentes como compostos de reserva energética em mais de 36 mil espécies de vegetais, muitos dos quais utilizados na alimentação humana, os FOS possuem características que permitem a sua aplicação tecnológica na fabricação de diversos tipos de alimentos. Apresentam cerca de 1/3 do poder adoçante da sacarose, maior solubilidade do que a sacarose, não cristalizam, não precipitam e não deixam sensação de secura ou areia na boca. Devido a essas características, podem ser usados em formulações de sorvetes e sobremesas lácteas, em formulações para diabéticos, em produtos funcionais que promovam efeito nutricional adicional nas áreas de prebióticos, simbióticos, fibras dietéticas, em iogurtes, promovendo efeito simbiótico (além do próprio efeito probiótico do iogurte), em biscoitos e produtos de panificação, substituindo carboidratos e gerando produtos de teor reduzido de açúcar, em barras de cereais, sucos e néctares frescos, produtos de confeitaria, molhos etc.
Logicamente, não se pode falar de ingredientes que promovem o envelhecimento saudável sem citar o colágeno, que nas últimas décadas ganhou espaço devido as suas inúmeras aplicações e aos seus benefícios relacionados ao envelhecimento. Produzido naturalmente pelo organismo através dos fibroblastos, o colágeno presente no organismo durante a juventude representa até 1/3 de toda a estrutura óssea, dérmica e muscular. A capacidade de produção dessa proteína se dá através da digestão, onde o organismo transforma o alimento fonte de colágeno em aminoácidos que serão absorvidos e distribuídos pelo organismo através da corrente sanguínea, conforme a necessidade.
A principal característica do envelhecimento da pele é a fragmentação da matriz de colágeno na derme por ação de enzimas específicas, tal como a metaloproteinase da matriz. Essa fragmentação na estrutura da derme diminui a produção de mais colágeno. Os fibroblastos que produzem e organizam a matriz de colágeno não podem inserir o colágeno fragmentado. A perda da inserção de colágeno, ou seja, a menor produção de colágeno, impede que os fibroblastos recebam informações mecânicas, ocorrendo o desequilíbrio entre a produção de colágeno e a ação de enzimas que degradam o colágeno. Na pele envelhecida, há uma menor produção de colágeno pelos fibroblastos e uma maior ação das enzimas que o degradam e esse desequilíbrio avança o processo de envelhecimento. Tratamentos que promovem o equilíbrio entre a produção de colágeno e a ação das enzimas que o degradam, retardam o processo de envelhecimento e, consequentemente, melhoram a aparência e a saúde da pele.
Pesquisas indicam que a ingestão de colágeno hidrolisado pode aumentar a produção de colágeno pelos fibroblastos e retardar o envelhecimento da pele, reduzindo as mudanças relacionadas à matriz extracelular durante o envelhecimento por estimular o processo anabólico na pele.
O colágeno também está relacionado com a regeneração e recuperação de lesões. A oferta adequada de colágeno pode, não somente prevenir, como regenerar tecidos e aumentar a densidade óssea, combatendo doenças como osteoporose, bursite, tendinite e distensão muscular. Além disso, o uso de colágeno hidrolisado no tratamento de lesões e fraturas pode melhorar a resposta imunológica do organismo, acelerando a regeneração e recuperando tecidos.
O colágeno também é fonte de fibras e proteína animal. O predomínio de aminoácidos, como glicina, prolina, lisina, hidroxiprolina, hidroxilisina e alanina, e a ausência da maioria dos aminoácidos essenciais, como o triptofano, faz com que o colágeno seja considerado uma fonte proteica pobre para a dieta humana. Por outro lado, o colágeno é um exemplo claro do relacionamento da estrutura proteica e a função biológica, pois fornece resistência e elasticidade nas estruturas anatômicas na qual está presente. Assim, a falta de aminoácidos essenciais do colágeno não o torna inutilizável, pois suas frações apresentam um importante papel na dieta humana por serem consideradas fontes de fibras nutritivas e por constituírem uma fonte de proteína animal.
Um avanço na medicina nutricional é a prevenção e o tratamento das disfunções gastrointestinais pelo consumo de fibras dietéticas, uma vez que esses compostos mantêm o funcionamento normal do trato gastrointestinal, aumentando o volume do conteúdo intestinal e das fezes, o que reduz o tempo de transição intestinal e ajuda a prevenir a constipação. Sua presença nos alimentos induz à saciedade no momento das refeições. Há alguns anos, considerava-se que os vegetais e as frutas eram as maiores fontes de fibras em alimentos. Entretanto, em uma série de casos, o colágeno e, particularmente as suas frações obtidas por uma variedade de técnicas, provou ser mais eficiente do que as fibras de origem vegetal, como por exemplo, na absorção de água e gelificação. Além disso, o colágeno é apropriado como um substituto parcial de carne.
Atualmente, o colágeno vem sendo utilizado como ingrediente em uma série de alimentos e bebidas, estando presente em barras de cereais para redução do teor de açúcar; iogurtes para redução do teor de gordura; sorvetes para conferir maior cremosidade, reduzindo a formação de cristais de gelo; shakes para enriquecimento proteico; chocolates para redução de gordura; e bebidas para a clarificação e também enriquecimento proteico das mesmas.
O colágeno também pode ser encontrado em bebidas funcionais, complexos vitamínicos, cápsulas, shots e gomas. Há, ainda, a sua versão em pó, que pode ser misturada em sucos e shakes, entre muitas outras aplicações.
Além dos já citados, outros ingredientes ativos são posicionados para a promoção do envelhecimento saudável, incluindo vitaminas (A, B6, B12, C, D e E), minerais (cálcio, ferro, magnésio, potássio, zinco e selênio), ácido graxo ômega 3, glucosamina e carotenóides, especialmente luteína e zeaxantina, para proteção da saúde ocular contra a degeneração macular relacionada com a idade avançada.