PRÉ MISTURAS: COMBINAÇÕES QUE FAZEM A DIFERENÇA

Em um mercado cada vez mais competitivo, a capacidade de padronizar formulações e acelerar a linha de produção não é apenas um diferencial: agora, trata-se de uma obrigação para as indústrias de alimentos e bebidas. As pré‑misturas, caracterizadas como combinações calibradas de ingredientes funcionais, nutricionais e sensoriais, podem transformar a eficiência operacional, garantindo consistência de qualidade e redução de erros de dosagem em escala industrial.
Além de simplificar processos produtivos, as pré‑misturas potencializam a inovação de produtos ao permitir a incorporação de bioativos, vitaminas, minerais e aditivos tecnológicos de forma controlada (e muito mais inteligente). A aplicação de tecnologias variadas amplia o leque de funcionalidades, assegurando estabilidade físico‑química, solubilidade rápida e liberação direcionada de compostos.
MERCADO GLOCAL
Food Premix
Em 2024, o mercado global de food premixes foi estimado em aproximadamente USD 2,15 bilhões e projeta crescer a um CAGR de 7,1 % entre 2025 e 2030, alcançando cerca de USD 3,25 bilhões ao final desse período.
A Ásia‑Pacífico detém hoje quase 39 % do volume.
Fonte: Relatório Food Premix Market Size & Trends 2025-2030, Grand View Research
Beverage Premix
Para bebidas, o segmento de premixes atingiu USD 65,84 bilhões em 2024 e deverá chegar a USD 69,56 bilhões em 2025, com CAGR de 5,6 %.
Suplementos de proteínas e bebidas energéticas lideram a adoção, seguidos por chás e achocolatados instantâneos.
Fonte: Relatório Beverage Premix Global Market Report 2025, The Business Research Company.
TIPOS E CLASSIFICAÇÃO DE PRÉ‑MISTURAS
Por função
Nutricionais: combinam vitaminas, minerais e aminoácidos para fortificação de farinhas, leites em pó e bebidas.
Funcionais: incluem emulsificantes, estabilizantes e agentes de textura que melhoram propriedades reológicas e shelf‑life.
Sensoriais: contêm aromatizantes, corantes e acidulantes para ajustar sabor, aroma e cor em produtos instantâneos.
Por tecnologia de fabricação
Spray‑drying: transforma soluções líquidas em pós uniformes, ideal para vitaminas e extratos sensíveis ao calor;
Granulação: agrega partículas com ligantes, conferindo fluxo e consistência superiores — muito usado em misturas de condimentos e preparações para confeitaria;
Microencapsulação: reveste compostos bioativos (óleos essenciais, probióticos) com polímeros alimentares, protegendo-os de oxidação e liberando‑os de forma controlada.
CRITÉRIOS DE FORMULAÇÃO E DESAFIOS NAS PROPORÇÕES
A qualidade de uma pré‑mistura começa ainda na bancada de formulação, onde a seleção de ingredientes e o equilíbrio de proporções determinam o desempenho e a estabilidade final. Antes de combinar cada componente, é essencial avaliar interações em potencial como complexação de minerais com fitatos ou antagonismo entre antioxidantes e corantes. Testes preliminares de miscibilidade e ensaios de pH ajudam a evitar precipitações e degradação prematura para obter a melhor compatibilidade físico-química.
A solubilidade rápida em água ou outras bases líquidas (óleo, etanol) é verificada por testes de dissolução em bancada, simulando condições de processo (temperatura, agitação). Em casos de dissolução lenta, adota‑se granulometria controlada ou agentes dispersantes. Da mesma forma, a estabilidade ao calor e à luz merece atenção, já que muitos aditivos, especialmente vitaminas lipossolúveis e extratos botânicos, são sensíveis a oxidação e fotodegradação. A microencapsulação ou uso de antioxidantes sinérgicos (combinação de tocoferóis e ácido ascórbico) pode prolongar vida de prateleira e garantir a liberação de nutrientes no momento certo.
O cálculo de dosagem de cada componente deve considerar fatores como biodisponibilidade desejada e limites regulatórios. Ferramentas de modelagem estatística (DoE – Design of Experiments) permitem identificar sinergias entre ingredientes, estabelecendo “zonas de robustez” onde variações de ± 5 % na formulação não comprometem o desempenho. Índices de liberação controlada são quantificados por ensaios de dissolução sequenciais, medindo a cinética de liberação de compostos ativos em diferentes faixas de tempo.
Na ADM, uma das medidas para não perder uniformidade nos produtos é não misturá-los com soluções de outras empresas. Já para manter a os padrões esperados, há certificações como a FSSC 22.000, que atestam a segurança em todas as etapas da cadeia produtiva.
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO
Testes de dispersão
Função: avaliam tempo de dissolução e formação de turbidez em matrizes aquosas, usando espectrofotometria e análise granulométrica via difração a laser.
Ensaios de shelf‑life:
Função: submeter amostras a temperaturas aceleradas (40–60 °C) e ciclos de umidade, monitorando retenção de cor, potencial antioxidante e propriedades sensoriais ao longo do tempo.
Análise reológica
Função: medir viscosidade, tixotropia e comportamento sob cisalhamento, fundamentais para pré‑misturas destinadas a produtos como molhos, cremes e massas, onde textura e bombeabilidade influenciam usabilidade na linha de produção.
PROCESSOS E TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO
Transformar uma fórmula em um produto consistente e escalável depende da escolha adequada de equipamentos e do rigor nos controles de processos. Recursos como misturadores de alto cisalhamento, que garantem a homogeneidade imediata em lotes de 50 kg a várias toneladas, granuladores por leito fluidizado e secadores de spray que convertem emulsões e suspensões em pós estáveis.
Algumas empresas apostam em misturas tecnológicas nas quais o cliente pode tanto trabalhar com blends já existentes como iniciar um novo projeto adequando a mistura específica conforme a sua necessidade. No Brasil, a Azelis | Vogler já trabalha dessa forma, com foco em usar a tecnologia para entregar produtos com alta performance.
A automatização também tem sido fundamental para melhorar a estabilidade e solubilidade em pré-misturas vitamínicas e proteicas. Algumas empresas já possuem fábricas com equipamentos 100% automatizados operando totalmente sem interferência humana, como a ADM, que utiliza ferramentas de inteligência artificial para aumentar a precisão de processos que levariam mais tempo quando conduzidos por misturadores tradicionais.
FUTURO DAS PRÉ-MISTURAS
A complexidade logística das pré‑misturas, em especial aquelas com ingredientes de alta intensidade ou compostos sensíveis, exige cadeias de suprimento com controle rigoroso de temperatura, umidade e rastreabilidade ponta a ponta. Modais mais rápidos, como aéreo ou rodoviário refrigerado, ajudam a garantir a integridade do produto, ao custo de fretes mais elevados.
A sustentabilidade representa, simultaneamente, um desafio e uma oportunidade. A pressão por formulações com menor pegada de carbono e origem transparente faz dos critérios ESG uma necessidade desde a seleção de matérias‑primas. A ADM, por exemplo, apoia a produção agrícola sustentável no Brasil junto aos seus parceiros no programa "Re:generação", com o objetivo reduzir as emissões de carbono no campo. O projeto já mensurou reduções de mais de 50% na emissão de carbono das áreas de plantio de soja analisadas comparado ao valor base utilizado no mercado.
Entre as principais tendências em pré-misturas que têm guiado o desenvolvimento de novos produtos estão as fibras, que estão em alta por conta do apelo funcional e das qualidades pré-bióticas. Dentro dessa vertente de saúde e bem-estar, podemos citar também os pós-bióticos, que são muito utilizados no mercado de suplementos alimentares e por farmacêuticas.
Lin Yiing
Diretor comercial para a América do Sul
ADM
O futuro das pré-misturas ainda está ligado aos novos hábitos dos consumidores, que demandam soluções veganas sem glúten ou low carb, e ainda exigem blends cada vez mais personalizados. As empresas já estão atentas: na Azelis | Vogler, os novos blends são desenvolvidos a curto prazo assim que surgem alterações nas regulamentações existentes.
Uma tendência que não podemos deixar de citar é a de substituição de componentes que possuem alto valor e que passam por crises de abastecimento, como por exemplo o cacau. Hoje possuímos diversas possibilidades para apoiar nossos clientes em quaisquer que sejam suas necessidades, sejam elas inovar através da saudabilidade ou buscar ganhos de produtividade sem perda de performance.
Viviane Alburguete
Gerente do Centro Tecnológico
Azelis|Vogler
DE OLHO NAS REGULAMENTAÇÕES E NORMAS TÉCNICAS
No Brasil, aditivos e coadjuvantes de tecnologia, categoria na qual se enquadram muitas pré‑misturas, são regulamentados pela Lei n.º 9.782/1999 e pelas Resoluções RDC nº 263/2005 e RDC nº 273/2005, que definem funções, limites de uso e requisitos de rotulagem. Em 2025, a Anvisa consolidou essas diretrizes na página de Aditivos Alimentares, alinhando‑as a referências internacionais como Codex Alimentarius e FDA. No âmbito Mercosul, as normas GMC/RES. 52/98 e IN 211/2023 garantem harmonização regional e maior previsibilidade para inclusão de novos aditivos.




























